Skip to main content

Energia limpa, confiável e descentralizada pode se tornar realidade para pequenas cidades e regiões isoladas

O Brasil está dando um passo importante rumo à inovação energética com o desenvolvimento de microrreatores nucleares — uma tecnologia promissora para fornecer energia de forma limpa e segura a pequenas cidades, hospitais, fábricas e comunidades remotas, diminuindo a dependência de geradores a diesel.

O projeto é conduzido com o apoio direto da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por meio de duas de suas unidades: o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, e o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), no Rio de Janeiro.

Tecnologia 100% nacional

Diferente de projetos estrangeiros, como o da Westinghouse nos EUA, o microrreator brasileiro será desenvolvido do zero, com tecnologia nacional, aproveitando a expertise já consolidada do país no setor nuclear. A iniciativa tem apoio financeiro da Finep, por meio do programa Finep Mais Inovação, com um orçamento de R$ 50 milhões — dos quais R$ 30 milhões vêm da própria Finep.

A proposta é liderada pelas empresas Diamante Geração de Energia, Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e Terminus Pesquisa e Desenvolvimento em Energia, com participação de universidades como UFABC, UFSC, UFMG, UFC e do Inatel, além do apoio da Marinha do Brasil e da AMAZUL.

Como funcionam os microrreatores?

Esses reatores têm potência estimada de 3 a 5 MW e podem operar por mais de 10 anos sem reabastecimento. São modulares, transportáveis e podem ser controlados remotamente. Um único microrreator de 5 MW pode atender uma cidade com até 5 mil habitantes — o que poderia beneficiar cerca de 68% dos municípios brasileiros se implantados em múltiplas unidades.

Além disso, eles representam uma alternativa estratégica para o aumento da demanda elétrica provocada pela digitalização e pelo crescimento dos data centers.

Pesquisas e desenvolvimento

O IPEN ficará responsável pela pesquisa e desenvolvimento dos materiais essenciais, como:

  • Moderadores (óxido de berílio e grafita)

  • Barras de controle (carbeto de boro)

  • Combustível nuclear (dióxido de urânio com maior diâmetro)

Já o IEN cuidará da montagem de uma unidade subcrítica, que servirá para testes e validações sem reação nuclear autossustentada. A ideia é verificar, por meio de experimentos, se os cálculos teóricos se confirmam na prática.

Principais desafios

Um dos grandes obstáculos do projeto é o sistema de transferência de calor, baseado em heat pipes — tubos térmicos que precisam de soluções de engenharia altamente inovadoras para garantir a estabilidade térmica do reator. O projeto ainda exigirá o desenvolvimento de sistemas avançados de segurança, controle e monitoramento remoto.

O atual estágio de desenvolvimento é o TRL 3 (modelagem matemática e estudos preliminares), com a meta de atingir o TRL 6, onde a tecnologia já é demonstrada em ambiente relevante. Para isso, serão criadas quatro Unidades de Desenvolvimento de Tecnologia (UDTs), com testes fundamentais, como:

  • Operação em baixa potência

  • Medições de reatividade

  • Validação do sistema de transferência de calor

Rumo à autonomia energética

Segundo os especialistas envolvidos, o Brasil tem todas as condições técnicas, científicas e industriais para liderar o desenvolvimento dessa tecnologia. A aposta em microrreatores pode ser um divisor de águas para a segurança energética, a redução de emissões de CO₂ e a democratização do acesso à eletricidade.

Como destacou o professor João Moreira, da UFABC:

“Estamos desenvolvendo algo original, baseado na nossa competência técnica e industrial. O conhecimento será produzido aqui, com insumos nacionais, para que o Brasil tenha autonomia e competitividade nesse setor estratégico.”

Para mais informações, visite CNEN.

Esta é uma adaptação do conteúdo original publicado pela CNEN.