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O Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) localizada em Belo Horizonte (MG), está dando um importante passo na área da biotecnologia. A instituição está desenvolvendo novas moléculas sintéticas conhecidas como aptâmeros, com grande potencial para diagnosticar de forma precisa o câncer e diversas doenças infecciosas.

Esses aptâmeros são pequenas sequências de DNA ou RNA capazes de se ligar com alta afinidade e especificidade a alvos biomoleculares, como proteínas específicas de vírus, bactérias ou até marcadores tumorais. Essa tecnologia tem sido aplicada no desenvolvimento de biossensores, dispositivos que detectam esses alvos em amostras clínicas, permitindo diagnósticos rápidos e precisos, inclusive no ponto de atendimento ao paciente.

Como funciona?

O desenvolvimento dos aptâmeros utiliza uma técnica chamada SELEX (Evolução Sistemática de Ligantes por Enriquecimento Exponencial). Nesse processo, uma molécula-alvo é exposta a uma biblioteca de oligonucleotídeos (sequências de DNA/RNA aleatórias). As sequências que se ligam melhor ao alvo são selecionadas, amplificadas via PCR, e passam por diversos ciclos até que se obtenha uma molécula altamente específica. Após esse processo, os melhores candidatos são sequenciados e podem ser sintetizados para aplicações práticas.

Esses “anticorpos artificiais” apresentam diversas vantagens em relação aos anticorpos tradicionais:

  • São produzidos sem o uso de animais;

  • Têm alta estabilidade;

  • São menos suscetíveis à degradação;

  • Possuem tamanho até 20 vezes menor que os anticorpos convencionais, o que facilita sua penetração em tecidos.

Além disso, os aptâmeros não causam toxicidade e possuem baixa imunogenicidade, o que os torna ainda mais seguros para uso em humanos.

Aplicações promissoras

Os pesquisadores do CDTN desenvolveram aptâmeros capazes de identificar o antígeno carcinoembrionário (CEA), um biomarcador amplamente utilizado para diagnóstico de câncer colorretal. Também foram desenvolvidos aptâmeros para detectar proteínas virais de doenças como Zika, Febre Aftosa e Febre Amarela, além de bactérias com importância clínica.

Uma das grandes vantagens dessa tecnologia está na criação dos chamados aptasensores – biossensores baseados em aptâmeros –, que se destacam por sua robustez e confiabilidade, mesmo em ambientes onde a estocagem de reagentes biológicos é um desafio, como regiões tropicais ou endêmicas.

Impacto na saúde pública

Segundo o biólogo e doutor em Bioquímica e Imunologia pela UFMG, Antero S. R. Andrade, coordenador da Unidade de Radiobiologia do CDTN/CNEN, “os aptâmeros representam uma nova plataforma tecnológica para o reconhecimento molecular, oferecendo alternativas versáteis às abordagens tradicionais de diagnóstico”.

Andrade destaca ainda que essas inovações têm o potencial de melhorar significativamente o acesso ao diagnóstico precoce, impactando diretamente a qualidade do atendimento e o prognóstico de pacientes.

Sobre o pesquisador

Antero Andrade é pesquisador titular da CNEN, membro permanente do programa de Mestrado e Doutorado do CDTN e responsável técnico pelo laboratório de diagnóstico molecular da instituição. Sua atuação se concentra em áreas como parasitologia, microbiologia, radiobiologia e desenvolvimento de radiofármacos.

Para mais informações, visite CNEN.

Esta é uma adaptação do conteúdo original publicado pela CNEN.